Domingo, 20 de novembro de 2022

                                                              

      Durante 30 anos de labuta na Polícia Militar de Minas Gerais, no combate sistemático e direto ao crime e aos criminosos, deparei com inúmeros casos de assalto (roubo a mão armada) e pude conviver com o trauma que essa modalidade criminosa causa nas vítimas, em seus parentes e amigos. É uma experiência constrangedora e amarga, tenham certeza disso.

   O assalto é caracterizado pela surpresa, que diminui ou impede qualquer capacidade resistência da vítima, além de oferecer risco de vida em caso de uma reação inesperada de susto, dando contornos de crueldade, portanto de violência, sem considerar que a vítima da sociedade, não raras vezes arrebata de seus algozes, seu bem mais precioso, a vida, por mero capricho ou para ocultar sua sanha vitimista do bem.

   Até aí, nada de anormal para um país que mergulhou numa crise de Segurança Pública aparentemente sem fim, causada taxativamente por políticas paliativas ao se tratar do assunto e por uma legislação cada vez mais voltada para a banalização da criminalidade e seus reflexos na sensação de impunidade.

   O jargão escolhido como título não foi inventado por mim, vem de uma prática largamente utilizada por vítimas da sociedade que, ao realizarem sua atividade laborativa, deixam, além dos já citados resquícios de crueldade, gotas de sarcasmo e sado masoquismo em seus escolhidos. Até aí tudo bem ainda, considerando nossa cruel realidade. Mas daí a ser utilizado por um membro da mais alta Corte Judiciária do país é um caminho muito longo, especialmente no contexto em que foi pronunciado e a quem foi dirigida, ainda que esse Ministro tenha sido, em outros tempos, defensor de um criminoso italiano de alta periculosidade. Eu diria assustador.

   Não se sabe ao certo qual o sentido que pretendeu Sua Excelência, se para confirmar a consumação de um crime ou se para escarnecer de um sentimento de toda uma nação. Não sei. Prefiro abster-me.

   Sim, sou um Mané. Perdi a eleição e com ela estou na iminência de perder muitas outras coisas ou direitos ou sentimentos.

   Pode ser que eu perca minha capacidade de raciocinar, pois estarei limitado para externar minhas ideias e opiniões, logo, não será mais necessário o esforço de raciocinar.

   Posso perder minha dignidade, pois ela me será ditada e fiscalizada.

   Não precisarei mais ler, alguém o fara por mim, certamente que de matérias de seu interesse.

   Sou um Mané, pois acreditei que o Brasil era sim, viável e que ingressaria na jornada desenvolvimentista do futuro, oferecendo oportunidades para meus filhos e netos, sem dependência de governos ou do Estado, que eu poderia comprar minha picanha com o fruto do meu trabalho honesto e do meu esforço pessoal.

   Sou um Mané pois cansei de assistir oportunistas se locupletarem com dinheiro do contribuinte sem ter contas a prestar a ninguém.

   Perdi sim, a minha liberdade de livre pensar e de me expressar, perdi porque não tenho mais segurança jurídica para meus empreendimentos e para meus projetos.

   Perdi o respeito de outras nações que nos enxergam apenas como um bom local para turismo sexual e de depravações diversas, regadas ao uso indiscriminado de entorpecentes.

   Perdi o respeito daqueles que amam nosso subsolo e nossas potencialidades, desde que venham gratuitamente ou a preço de banana.

   Posso perder meu direito de crer em um Ser Supremo, acima de todas coisas que só nos enviou mensagens de amor e fraternidade. Posso perder o direito de criar minha família conforme meus valores e crenças.

   Perdi sim, sou Mané e não posso amolar. Estarei amordaçado e talvez trancafiado.

   Só não perdi e nuca perderei minha esperança e minha capacidade de sonhar.

   Paz e Luz.

 


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Domingo, 21 de agosto de 2022

Escolhas
















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