Domingo, 01 de junho de 2025



por Marcius Túlio Amaral Pereira

Coronel da reserva da PMMG

 A metáfora conhecida como Síndrome do Sapo Cozido, traduzida de forma literal nos conta que, um sapo colocado em uma vasilha com água em temperatura ambiente e essa vasilha for levada ao fogo, ali permanecerá até que a água atinja a fervura e o sapo morrerá cozido, ao passo que, jogado em uma vasilha com água fervente, o sapo saltará para fora.

   Em outras palavras, trata-se de uma mensagem figurada para descrever uma espécie de acomodação do anfíbio, que numa visão mais otimista, pode ser considerada uma capacidade do sapo em se adaptar ao ambiente, entretanto, otimista ou não, em ambos os entendimentos, morrerá cozido.

   No caso em que já encontra a água fervente, procura imediatamente por uma zona de segurança, sem tentar se adaptar.

   Quanto ao sapo, apesar da crueldade da experiência, pouco impacta na vida humana a ponto de não despertar interesse, senão ilustrar situações em que os protagonistas são os humanos, individual ou coletivamente, demonstrada numa experiência que se tornou uma metáfora, alvo de comparação.

   Trata-se inequivocamente de registrar a capacidade humana de se adaptar aos mais diversos ambientes e situações, não raras vezes com inestimável auxílio do tempo.

   Adaptar-se pode até ser classificado como virtude, desde que não se confunda ou não esteja vinculada a acomodar-se, reação humana, que em nenhuma hipótese sugere positividade.

   Nossa realidade, enquanto humanos, revela nuances controversas e catastróficas quando envolvidas com  os comodismos coletivos, sobejamente registradas nos anais da História.

   Sempre acompanhado por sua irmã siamesa, as narrativas motivacionais e tendenciosas, os comodismos coletivos levaram civilizações hegemônicas à bancarrota, impérios à ruína, vidas ao túmulo e liberdades à escravidão.

   Desde os primórdios da humanidade aos apocalípticos acontecimentos na Europa Nazista, no século passado, se estendendo às agendas woke e ao progressismo insano, a História nos brinda com dominantes e subjugados, sempre sob a égide da tirania e com lastros de controle total, que exprimem poder em nome de vaidades pessoais e sob o invólucro das narrativas ideológicas.

   Nesses parâmetros, toda e qualquer insurgência é sufocada com rigor, sem limites, sem escrúpulos e com extrema crueldade.

   A metáfora da Síndrome do Sapo Cozido cuja “tendência humana de não perceber as mudanças negativas que ocorrem  de forma gradual e imperceptível, resultando numa situação insuportável e, por vezes fatal”, vem ganhando ares de normalidade no cotidiano planetário, com reflexos muitas vezes retardatários no Brasil.

   As hipocrisias de toda ordem que assolam nosso país, com retumbância e ecos especialmente na economia e nas liberdades ditam as regras que nos atrelam  ao poder do Estado, tornando-nos dependentes de sua benevolência, incondicional e misericordiosa.

    A cada movimento no tabuleiro da vida, estamos à mercê das vontades do Estado e de seus discípulos ávidos por um lugar ao sol, sob a tutela do poder, cooptando súditos incautos e famintos.

   A sensação de poder é inebriante e entorpecente, mina qualquer resistência ao bom senso e a sensibilidade, é normalmente retroalimentada pela sensação inversa de impotência dos subjugados, pelo comodismo com vestes de adaptação e aparelhado por narrativas espúrias e comoventes, é um jogo de cartas marcadas cujos vencedores se esbaldam na passividade obediente das elites falidas e dos falsos líderes “engomadinhos”.

   A tão falada e referenciada pacificidade do brasileiro, umbilicalmente ligada ao comodismo utópico, confundida com capacidade de adaptar-se ganhou notoriedade internacional com novo perfil, o da passividade coletiva e institucional, dando vasão ao constrangedor carma de vira-latas e o rótulo de indesejável por sua postura irreverente e relapsa.

   Nosso futuro se tornou incerto com indícios de subserviência consciente e inócua. Belos exemplares de “tropicanos” zumbis.

     Em fogo brando, estamos imersos em água morna, a sensação é estranha, mas ainda suportável, resta entender em qual vasilha estamos alojados, se um simples caldeirão ou se uma panela de pressão, mas isso, só o tempo dirá.

   Paz e Luz.